quinta-feira, 11 de junho de 2015

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Marcos Fabrício Lopes da Silva*



Edson Roberto Severnini, na monografia O impacto da violência nas escolas sobre a proficiência dos alunos (IPEA-CAIXA, 2006), destaca uma conjuntura alarmante que precisa participar urgentemente das discussões sobre os parâmetros éticos que devem balizar a gestão educacional de qualidade:  

“Nota-se, recentemente, que educadores, pais, alunos e formuladores de políticas públicas estão bastante preocupados com a questão da violência nas escolas. A preocupação é legítima, haja vista que as manifestações de violência induzem comportamentos nos agentes da educação que se contrapõem às metas de melhoria da qualidade do ensino e aumento da permanência na escola. Por um lado, a falta de segurança força os diretores e os professores a reduzirem as exigências no processo de ensino-aprendizagem. Por outro, os alunos podem ter dificuldades de concentração nas aulas e, no limite, evadirem-se da escola. De fato, numa pesquisa da Unesco, realizada em 2000, em 14 capitais brasileiras, aproximadamente metade dos professores afirma que perde o estímulo ao trabalho por causa da violência no ambiente escolar, um terço revela que diminui o rigor com que conduz as atividades educacionais, um quarto reclama da dificuldade de se concentrar em escolas violentas e manifesta perda da vontade de trabalhar e um quinto revela que reage às ameaças e/ou às violências sofridas, buscando a transferência de escola, gerando rotatividade de professores. Do lado dos alunos, aproximadamente a metade deles sustenta que a ocorrência de atos violentos na escola faz com que não consigam concentrar-se nos estudos, um terço deles afirma ficar nervoso e revoltado com as situações de violência que enfrenta em suas escolas e aproximadamente essa mesma proporção menciona a perda da vontade de ir à escola”.

Diante desta realidade problemática, duas questões são fundamentais para se pensar a gestão da escola na contemporaneidade: quais são as funções da escola hoje e se a escola é capaz de humanizar o homem. A escola deve fazer o educando se encontrar na sua tradição cultural, na sua diversidade e na sua subjetividade. Para isso, é preciso aprender a tolerar: quem tolera deixa o outro existir com as suas singularidades. Esse é um primeiro passo para pensarmos uma escola da inclusão.

Um aspecto que dificulta a escola da inclusão é a compaixão, que impede o outro de crescer. A compaixão transforma o educando em objeto. Para uma educação que favoreça a inclusão, a escola precisa reconceituar o seu papel: a produção de conceitos/conhecimento. Isso, com a participação dos pais no processo de formação dos filhos. Na escola inclusiva, que é um dos desafios para a gestão escolar dos dias atuais, a autoestima – que é consequência de ter um lugar no campo do outro, ser amado e de ser acolhido – é parte fundamental do trabalho do educador. 

Muitas escolas brasileiras sequer conseguem um bom desempenho na transmissão do saber. O que se percebe é que professores e alunos não têm conseguido produzir e transmitir conhecimentos no ato de ensinar e aprender. Para isso, o desejo de ensinar deve ser precedido do desejo de saber. É preciso incluir o desejo de ensinar/saber nas escolas. A escola deve produzir uma satisfação ligada à particularidade do sujeito. A pedagogia que busca a formação intelectual não pode abrir mão da subjetividade daquele que opera o conhecimento – o educando. O ato pedagógico resgata a subjetividade produzindo o sentido e o conhecimento de si e do outro.

No ato pedagógico remete-se à inteligência do educando. Desperta-se, aguça-se, a inteligência do educando, convidando-o a produzir saber. Tem razão pedagógica Adélia Prado, quando verseja: “Não quero faca nem queijo; quero é a fome”. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Afeto, do latim “affetare”, quer dizer “ir atrás”. É o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. 

Os especialistas pesquisam incansavelmente as causas da crise escolar e acabam por responsabilizar, ora os professores, ora o desequipamento escolar, ora os currículos sobrecarregados ou, ainda, as verbas insuficientes destinadas ao setor. De fato, cada uma dessas facetas guarda uma culpa ampla e profunda para com os maus resultados estatísticos do desempenho do sistema. Grande dose de responsabilidade pelo que vem ocorrendo também se encontra na falência das famílias no exercício de sua orientação educativa em relação aos filhos. Por isso, políticas sociais de governo precisam conter não só reformas da educação, mas também medidas no sentido de apoiar e assistir minimamente as famílias, principalmente, as com menor rede de proteção cultural e econômica, no que diz respeito a suas responsabilidades educativas para com os filhos.


Pensar a gestão na escola da inclusão é formalizar e explicitar o “fracasso nosso de cada dia”, pois é ele que nos impulsiona para refazer as experiências negativas. Na nossa sociedade, a escola tem pautado seu trabalho pelo êxito, recusando-se a assumir e trabalhar o fracasso escolar. Incluir é reconstruir nossa subjetividade para termos as ferramentas que permitam a sobrevivência, a solidariedade e o convívio com as diferenças. Só assim poderemos sustentar os quatro pilares da educação que fundamentarão o novo milênio: aprender a ser, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a conhecer.

Remediar a violência está no cerne do comportamento inteligente. Não me refiro tanto à ênfase dada ao pensamento abstrato e ao raciocínio, nem me dirijo somente às capacidades que possibilitam a aprendizagem e a acumulação de conhecimentos. São propriedades fundamentais, reconheço, e que ganham maior relevância, quando sustentam a competência social das pessoas em tentar resolver os problemas apresentados por sua cultura.    



* Professor da Faculdade JK, no Distrito Federal. Jornalista, poeta e doutor em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da UFMG.

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