Estudos sobre a formação da sociedade
brasileira constatam como as dinâmicas estruturais da economia, da política e
da legislação produziram ilhas de abastados e de privilegiados e uma miríade de
desprovidos. Não se enxergavam pessoas, mas o seu valor segundo o quanto elas
podiam produzir e consumir. Com a República, nós nos tornamos cidadãos sem os
direitos republicanos e com a imensa tarefa de conquistar os direitos sociais.
Foi assim na educação básica e na superior, visto que as elites nacionais
criaram estruturas e instituições no país, voltadas para a formação dos seus
bacharéis. Esta situação de formar bacharéis e de omitir os direitos e sociais
da população estruturou a formação da sociedade brasileira. O não
reconhecimento dos bens públicos, as práticas neopatrimoniais e a apropriação
dos bens materiais e imateriais por tradição familiar são elementos
substanciais enraizados na trajetória da educação do país.
Foi contrariando esse contexto que Anísio
Teixeira (1900-1971) se fez firme na defesa da escola pública gratuita e laica,
defendendo que educação não é privilégio, mas que todos têm direito a ela.
Darcy Ribeiro (1920-1995) também foi decisivo ao se empenhar nos estudos do
processo civilizatório que revelaram as circunstâncias culturais constituintes
da identidade do povo brasileiro. A esses intelectuais se juntaram Oscar
Niemeyer (1907-2012) e Cyro dos Anjos (1906-1994) para projetar e implementar a
Universidade de Brasília (UnB). Conduzida pelos pensadores citados, a comissão,
instituída pelo então presidente da República, Juscelino Kubistscheck
(1902-1976), por meio da Lei nº. 3.998, de 15/12/1961, viabilizou a
concretização desse projeto de educação audacioso, no contexto de transferência
da capital do Rio de Janeiro para Brasília.
Segundo seu Plano Diretor (FUB, 1962), a UnB, chamada
por Darcy Ribeiro de “universidade necessária”, tem como compromissos: a)
formar cidadãos responsáveis, empenhados na procura de soluções democráticas
para os problemas com que se defronta o povo brasileiro na luta pelo
desenvolvimento; b) preparar especialistas altamente qualificados em todos os
ramos do saber, capazes de promover o progresso social pela aplicação dos
recursos da técnica e da ciência; c) reunir e formar cientistas, pesquisadores
e artistas e lhes assegurar os necessários meios materiais e as indispensáveis
condições de autonomia e de liberdade para se devotarem à ampliação do
conhecimento e à sua aplicação a serviço do homem.
O que vem, entretanto, impedindo que a
universidade e a escola caminhem juntas no sentido de alavancar planos
diretores dessa magnitude, em matéria de ensino superior? Em um milênio de
incertezas, como o que começamos a viver, nunca foi tão importante a presença
de um professor bem formado no seu campo de estudos, em termos dos valores
éticos e humanos que dão sentido às práticas educativas e com visão
interdisciplinar das ciências pedagógicas. A Licenciatura não é desenvolvida na
perspectiva de formar o licenciado, ou seja, o professor, mas o enfoque
predominante é, ainda, a formação do bacharel. Como no Brasil a opção histórica
foi a de delegar às universidades, centros e faculdades a missão de preparar o
magistério, cumpre encontrar alternativas para que esse objetivo se cumpra em
sua plenitude, malgrado estarmos, ainda, distante desse avanço.
Ainda sobre o tema em questão, outro grave
problema se deu porque o sucesso em valorizar a pesquisa ocorreu à custa de um
relativo divórcio entre a formação dos professores e as universidades,
comprometendo uma das razões de sua criação no Brasil. O desprestígio social do
professor da educação básica contradiz qualquer discurso sobre a importância da
educação. Ademais, décadas de afastamento entre a universidade e a escola
básica põe em dúvida a capacidade de uma em formar quem vai trabalhar na outra.
Daí a importância de uma formação na escola, como também é importante para o
exercício da profissão médica a residência num hospital credenciado. Assim, vem
se perdendo a finalidade principal do ensino que, como estabelece o artigo 205
da Constituição, deve visar ‘‘o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho’’. O professor
Miguel Reale, jurista, filósofo e ex-reitor da USP, fixa três finalidades do
ensino: a) formação da personalidade do educando, tanto do ponto de vista físico
quanto ético; b) dar-lhe consciência de seu papel na sociedade para o exercício
da cidadania; c) ministrar-lhe os ensinamentos exigidos e facilitar o acesso
aos postos de trabalho, num sistema de produção cada vez mais automatizado.
Pensar a função social da educação implica problematizar a escola que temos na tentativa de construirmos a escola que queremos. Para dar sustentação às contínuas evoluções, a escola precisa ressaltar um ensino que crie conexão entre o que o aluno aprende nela e o que ele faz fora dela, conexão entre o ensino formal e o mundo do trabalho, entre o conhecimento e a vida prática do estudante. Os conteúdos curriculares devem estabelecer a relação entre teoria e prática, através de situações próximas da realidade do aluno, permitindo que os conhecimentos adquiridos melhorem sua atuação na vida cotidiana. É preciso englobar também a compreensão do conhecimento enquanto bem social que só pode ser produzido, criticado e transmitido em benefício da sociedade em instituições plurais e livres que desfrutem de plena autonomia e liberdade acadêmica. Desse modo, a universidade não pode ser reduzida aos valores econômicos, pois há a necessidade de perseguir o sentido ético e social do conhecimento e da formação, componentes fundamentais da ideia de educação integral.
Pensar a função social da educação implica problematizar a escola que temos na tentativa de construirmos a escola que queremos. Para dar sustentação às contínuas evoluções, a escola precisa ressaltar um ensino que crie conexão entre o que o aluno aprende nela e o que ele faz fora dela, conexão entre o ensino formal e o mundo do trabalho, entre o conhecimento e a vida prática do estudante. Os conteúdos curriculares devem estabelecer a relação entre teoria e prática, através de situações próximas da realidade do aluno, permitindo que os conhecimentos adquiridos melhorem sua atuação na vida cotidiana. É preciso englobar também a compreensão do conhecimento enquanto bem social que só pode ser produzido, criticado e transmitido em benefício da sociedade em instituições plurais e livres que desfrutem de plena autonomia e liberdade acadêmica. Desse modo, a universidade não pode ser reduzida aos valores econômicos, pois há a necessidade de perseguir o sentido ético e social do conhecimento e da formação, componentes fundamentais da ideia de educação integral.