sábado, 20 de junho de 2015

QUESTÃO DE LIDERANÇA

Marcos Fabrício Lopes da Silva*


Um bom líder tem confiança em si, motiva seus liderados, apresenta visão clara de onde quer chegar, possui ótima capacidade de comunicação, toma decisões, experimenta a calma em momentos de crise e visualiza o sistema como um todo. Faz-se necessário, portanto, destacar o papel do líder como modelo de autoridade respeitável. Nesse sentido, ele utiliza o poder para designar a capacidade de provocar a compreensão das diretrizes a serem acompanhadas; a legitimidade para designar a aceitação do exercício do poder, porque este corresponde aos valores dos colaboradores, a partir de um trabalho de equipe sintonizado; e a autoridade para designar a combinação dos dois, isto é, o poder que é considerado legítimo. 

A capacidade administradora de um líder, normalmente, é medida pela sua capacidade de gerenciar, com excelência, uma organização social. Segundo Margarida Kunsch, em Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada (1986), “para um perfeito desempenho das organizações, (...) é imprescindível que haja um centro aglutinador que comanda diretamente os setores, em função de um sistema integrante, onde as pessoas passam a interagir de uma forma mais grupal, perseguindo muito mais as metas supra-individuais”. 

Ao promover o “centro aglutinador”, o líder consegue desenvolver políticas de “consentimento” que vão nortear a ordem social na organização. Sua competência como exímio conselheiro se faz presente nas orientações provenientes de experiências gerenciais ambientadas em tempos de tempestade e bonança. Por isso, uma de suas habilidades especiais se refere também à “administração de controvérsia pública”. É decisivo, sob esse aspecto, o valor da competência comunicativa, baseada em uma perspectiva de troca, de reciprocidade e de comunhão de ideias cujo objetivo é qualificar as decisões e torná-las mais eficientes em sua dimensão coletiva. 

Muito mais do que um bom orador, cabe ao líder desempenho excelente na arte da “escutatória”, na feliz expressão de Rubem Alves. A liderança se torna sábia quando se valoriza o papel do conselho, principalmente em dinâmicas conturbadas, conforme salienta Rainer Maria Rilke, em Cartas ao jovem poeta (1929): “não acredite que quem procura consolá-lo vive sem esforço, em meio às palavras simples e tranquilas que às vezes lhe fazem bem. A vida dele tem muita labuta e muita tristeza e permanece muito atrás dessas coisas. Se fosse de outra maneira, nunca teria encontrado aquelas palavras”. Face ao exposto, o líder, imune aos mantras do otimismo escapista, pode desfrutar de lições preciosas como exímio aprendiz do fracasso. Agindo assim, o sujeito ativará os mecanismos dialéticos da existência, capazes de tornar as forças eficazes e as fraquezas irrelevantes. Encontra-se nesta perspectiva o ideal de liderança inteligente. Seu objetivo é viabilizar a formação de um conjunto de pessoas empenhadas em promover ações significativas para a excelência das organizações em matéria de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. 

Idalberto Chiavenato, em Introdução à teoria geral da administração (1993), destaca três estilos de liderança: a autocrática, a liberal e a democrática. O primeiro modelo é centralizador e tirânico, sendo as decisões tomadas de forma impostiva e agressiva pelo líder, o que prejudica a manifestação espontânea da equipe e, consequentemente, o relacionamento interpessoal. O segundo tipo é marcado pela delegação total de poderes concedidos pelo líder ao grupo, o que dificulta o funcionamento adequado dos mecanismos de direção, imperando o individualismo voraz e a pouca respeitabilidade em torno do líder.  O terceiro perfil, por seu turno, se caracteriza pela condução motivadora do líder, o que desencadeia um processo de participação democrática das pessoas. Nesse regime, comunicações espontâneas, francas e cordiais favorecem uma grande integração grupal dentro de um clima de satisfação. 

Cabe para o bem da realidade brasileira a manifestação de formas alternativas de direção: a liderança rebelde e a liderança sensível. O primeiro perfil, conforme ilustra Paulo Freire, em Educação e mudança (1981), se apresenta no seguinte contexto: “quanto mais dirigidos são os homens pela propaganda ideológica, política ou comercial, tanto mais são objetos e massas. Quanto mais o homem é rebelde e indócil, tanto mais é criador, apesar de em nossa sociedade se dizer que o rebelde é um ser inadaptado”. Exemplo de liderança rebelde aparece no samba Zé do Caroço (1985), de Leci Brandão: “E na hora que a televisão brasileira/Distrai toda gente com a sua novela/É que o Zé põe a boca no mundo/Ele faz um discurso profundo/Ele quer ver o bem da favela/Está nascendo um novo líder/No morro do Pau da Bandeira”. Por sua vez, Jorge Ben Jor, na canção O rei chegou, viva o rei (1975), propõe diretrizes para um líder sensível: “Que ele governe com sabedoria/Julgue com justiça e simpatia (...) Que ele seja o portador da paz/E da prosperidade, um homem/de boa vontade”. “Use o conhecimento com/perseverança e consciência/Pratique, transmute a vontade/com lealdade/e sinceridade”, recomenda também o cantor, em Luz polarizada (1975). Rebelde e sensível, um líder de verdade atua, antes de tudo, como um educador que incentiva o ímpeto criador do homem e sua consciência crítica.


* Professor da Faculdade JK, no Distrito Federal. Jornalista, poeta e doutor em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da UFMG.

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