Marcos
Fabrício Lopes da Silva*
Toda
atividade crítica é logo entendida no sentido de corrigir, constatar e suprir
erros e deficiências. Muito além da idéia de criticar para progredir, o media criticism nasceu com o sentido de
resgatar a função social dos meios de comunicação, que muitas vezes é esmagada
por deslizes éticos cometidos ilimitadamente pelos media. Nesse contexto, surge a essência da expressão media criticism – ou crítica da mídia –,
onde a existência desses críticos é importante quando o direito à informação
não é direcionado em seus múltiplos sentidos: os veículos informando ao público
e o público se informando sobre os veículos.
No texto "Media Criticism: um espaço mal-dito" (1982), Alberto Dines argumenta que o crítico deve abnegar um espaço de destaque na profissão para que sua vigilância não esteja presa aos limites das organizações: "Ridicularizaram, criticaram, desmascararam jornais, jornalistas ou desempenhos jornalísticos que em sua ótica estava errados. Mas não feriam a estrutura nem o processo como um todo [...]. O media critic não pode focalizar desempenhos ou comportamentos sem enquadrar a estrutura que cria, estimula e orienta tais desempenhos ou comportamentos [...]. O media critic que bombardeia áreas sensíveis de determinado veículo ganha fatalmente o estigma de maldito pelo resto da instituição [...]. O media critic deve capacitar-se de que é um maldito, um renunciante, abrindo mão de um lugar ao sol no establishment. Caso contrário, suas posições serão mal-ditas, isto é, levianas".
No texto "Media Criticism: um espaço mal-dito" (1982), Alberto Dines argumenta que o crítico deve abnegar um espaço de destaque na profissão para que sua vigilância não esteja presa aos limites das organizações: "Ridicularizaram, criticaram, desmascararam jornais, jornalistas ou desempenhos jornalísticos que em sua ótica estava errados. Mas não feriam a estrutura nem o processo como um todo [...]. O media critic não pode focalizar desempenhos ou comportamentos sem enquadrar a estrutura que cria, estimula e orienta tais desempenhos ou comportamentos [...]. O media critic que bombardeia áreas sensíveis de determinado veículo ganha fatalmente o estigma de maldito pelo resto da instituição [...]. O media critic deve capacitar-se de que é um maldito, um renunciante, abrindo mão de um lugar ao sol no establishment. Caso contrário, suas posições serão mal-ditas, isto é, levianas".
A
imprensa é, portanto, um importante elemento de mediação. Isto porque é, ao
mesmo tempo, uma força política da sociedade, como também uma interlocução com
o poder na função de fiscalizar a prática deste, alertando a população, a quem
idealmente esta serve, dos abusos cometidos e privilégios praticados que não em
benefício da sociedade. Logo, é intrínseco a ela reconhecer as vozes do público
e dar a ele espaço para exercer sua cidadania. Porém, se a imprensa – que tem
como principais funções intermediar as relações de poder, fiscalizar as forças
da sociedade e informar os cidadãos de forma independente – está comprometida
com os interesses privados, que órgão haveria de regular o exercício da própria
imprensa para que o seu fim fosse, efetivamente, alcançado, e garantisse ao
leitor seu papel também de cidadão?
Se
de um lado a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt defendia que “a comunicação
cuida da assimilação dos homens, isolando-os” e “todos os meios de comunicação
altamente desenvolvidos só servem para fortalecer as barreiras que separam
entre si os seres humanos”, Jürgen Habermas rompe com essa perspectiva e propõe
o conceito de “ação comunicativa”. Ele defende, como alternativa, a “fabricação
de opiniões”, a reinvenção do espaço público no fazer comunicação com a
extensão da participação da sociedade, numa “razão comunicativa, de natureza
intersubjetiva, que se constitui no curso da interação social entre os homens”.
A razão comunicativa de Habermas retira a mídia da sua condição exclusivamente
de manipulação e emancipa o receptor da condição de alienado, abrindo a questão
às mediações e reinventando o sujeito.
As
teorias da recepção inserem no debate as condições sociais de produção de
sentido, tendo a “informação como processo de comportamento coletivo e os
conflitos de interesse em jogo na luta por produzir, acumular ou veicular
informações e, por conseguinte, os problemas da desinformação e do controle”.
Entra em jogo a perspectiva de um receptor produtor de sentido. Insere-se o
conceito de criticidade por parte do sujeito e de elementos mediadores, de
ressignificação da cultura e do indivíduo. Dá-se lugar às relações constituídas
nas relações, sendo o espaço dos meios de comunicação elemento estratégico num
processo de negociação de sentidos.
Nesse
sentido, a responsabilidade das mídias é enorme, mas, como estão muitas vezes
comprometidas com interesses e valores pessoais – como a maioria está
organizada em conglomerados de empresas privadas – escapam à defesa dos
direitos dos cidadãos na comunicação e utilizam a sua força para abastecer
sistemas de significação e representação cultural, em detrimento do exercício
real da cidadania e da democracia. A respeito, o saudoso compositor e cronista
mineiro, Fernando Brant (1946-2015) se apresentou arrojadamente como crítico da mídia, no texto “O lixo”,
publicado no jornal Estado de Minas,
de 24/02/2010:
“Pensando
no lixo, entro no mundo do lixo. Os detritos mais asquerosos estão nos jornais
de todos os dias, que escancaram injustiça, violência, corrupção, mentiras,
preconceitos. A desumanidade impera nas páginas. Ou então, essas se calam
diante dos poderosos, aceitando passivamente a mentira, a ignorância e idiotia
de mitos fabricados para enganar a maioria. O que vale para a imprensa escrita
se multiplica quando assistimos aos meios audiovisuais. E as opiniões
descabeladas que circulam pela rede digital? Será que o país foi sempre assim,
desmiolado e sem qualidades, incapaz de pensar e produzir ideias, políticas,
obras e espetáculos inteligentes?
É
bom então que eu jogue ao lixo esses cadernos jornalísticos imprestáveis. E que
emudeça o televisor, jogue fora o controle remoto, que nos oferece um circo de
horrores e mau gosto. Parar de gastar o tempo de viver com o que não é
essencial. Aproveitar o dia e a vida.
Não
sei por onde anda meu companheiro de peladas de rua que, adolescente, encontrei
trabalhando num caminhão de lixo. Pensando nele e nos profissionais da boa
limpeza urbana, gostaria que houvesse, também, um serviço de coleta de porcarias
culturais, políticas e sociais.
Enquanto
esse sonho não se realiza, entro em meu refúgio e mergulho em leitura e
releitura de Guimarães Rosa. Isso, sim, um luxo”.
* Professor das Faculdades Ascensão e JK, no Distrito Federal. Jornalista, poeta e doutor em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da UFMG.
* Professor das Faculdades Ascensão e JK, no Distrito Federal. Jornalista, poeta e doutor em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da UFMG.
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